Relatoria: Grupo de Saúde Oral da SPSP
Lúcia Coutinho (coordenadora), Dóris Rocha Ruiz, Silvia José Chedid, Adriana Mazzoni, Carla Di RagoTodescan, Cristina G. Del Conte Zardetto, Liliana Ap. Mendonça V. Takaoka, Maria do Carmo Carvalho Bertero, Patricia Camacho Roulet, Regina Donnamaria Morais, Renata Di Francesco, Sylvia Lavinia Martini Ferreira, Vera Regina Mello Dischekenian
Por que é importante o exame oral do recém-nascido?
O exame da boca do recém-nascido deve ser realizado ao nascimento na maternidade, e logo que possível pelo odontopediatra escolhido pela família para acompanhar a saúde oral do bebê. É fundamental para avaliar e diagnosticar possíveis desvios e alterações que possam dificultar ou impedir a realização adequada da respiração, sucção, deglutição e amamentação. Como existem algumas características orais próprias dessa fase, que se modificam ou desaparecem ao longo do tempo, faz-se necessário, que este exame seja realizado por um odontopediatra para que seja possível: avaliar a formação das estruturas da cavidade oral ao nascimento; iniciar o acompanhamento da posição dos rodetes gengivais (local onde futuramente surgirão os dentes de leite) e o monitoramento do crescimento e desenvolvimento orofacial (boca e face); e estabelecer com a família ações odontológicas preventivas.
Qual a diferença entre dente natal e neonatal e quais as suas complicações?
Os dentes natais estão presentes ao nascimento, enquanto que os neonatais erupcionam até 30 dias após o nascimento do bebê. Estes dentes podem causar irritação e trauma na língua do lactente, ulceração sublingual, laceração do mamilo materno e aspiração devido à ampla mobilidade da maioria destes dentes. O odontopediatra deve fazer um exame clínico e radiográfico para saber se o dente pertence à série normal da dentição decídua. Se isto ocorrer e o dente não apresentar risco à aspiração (devido a seu grau de mobilidade), suas bordas podem ser arredondadas, deve-se fazer uma aplicação de flúor, orientar a mãe quanto à higiene após as mamadas e este dente deverá ser mantido na boca do bebê.
Como é a deglutição da criança durante o aleitamento materno?
Ocorre de maneira diferente antes e após a erupção dos dentes. Antes da erupção, a língua se interpõe entre as arcadas em estreita relação com a superfície lingual dos lábios para criar um selamento necessário durante a deglutição. A erupção e oclusão dos dentes incisivos levam a movimentos mandibulares de abertura e fechamento mais precisos e com isso a postura da língua é retraída. A partir da oclusão posterior bilateral iniciam-se os movimentos mastigatórios (deglutição madura).
Qual a importância do aleitamento materno na formação dos hábitos alimentares e desenvolvimento orofacial?
O aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida prepara o sistema estomatognático (músculos, bochechas, língua, ossos do crânio e face, etc.) para o adequado desempenho de suas principais funções: respiração nasal, mastigação e deglutição adequadas; além do desenvolvimento da fonação e posterior articulação da fala. As estruturas envolvidas na sucção são exercitadas intensamente durante o aleitamento materno e terão papel fundamental na etapa seguinte da alimentação que é a mastigação. Durante o aleitamento artificial, os estímulos musculares são limitados, fazendo com que a pega do bico da mamadeira gere um posicionamento incorreto da língua. A respiração fica alterada, resultando num menor estímulo para o crescimento ósseo e consequente início da mal oclusão. Independente da presença de dentes, as bases ósseas já poderão estar alteradas. Sendo assim, o aleitamento materno é o alicerce para a formação de estruturas faciais adequadas, que permitirão a formação de hábitos alimentares saudáveis; com repercussões nas fases seguintes do crescimento e desenvolvimento orofacial.
É necessário higienizar a cavidade bucal do recém-nascido?
Não é necessário fazer a limpeza bucal enquanto o bebê é amamentado exclusivamente no peito. Embora seja desnecessária a indicação de limpeza da cavidade bucal do bebê ainda sem dentes, muitos profissionais indicam esta prática como uma pré-adaptação da criança aos cuidados de higiene ou como uma estimulação da cavidade bucal do bebê. Neste caso, para este procedimento ser realizado com eficiência e segurança, o bebê deve estar na posição de amamentação, sendo a limpeza feita com o uso de massageadores bucais, dedeiras de silicone, gaze estéril ou fraldas molhadas em água filtrada, envoltos no dedo indicador da mãe do bebê. Deve-se ter o cuidado de não introduzir estes utensílios ou mesmo os dedos além da metade da língua, para não provocar ou estimular o reflexo de vômito nos bebês.
Como fazer a higiene bucal do bebê?
A partir do primeiro dente, o adulto deve higienizar com a escova dental adequada para a idade da criança, podendo utilizar uma pasta dental com Flúor – 1.100 ppm – na quantidade de 0,1g, que equivale a 1 grão de arroz crú. É muito importante que esta higiene seja orientada por um odontopediatra.
O que fazer para aliviar a angústia do bebê durante a fase de erupção dental?
Todos os recursos existentes são temporários. O bebê deve passar por esta fase da forma mais natural possível. Desde a época de Hipócrates, são descritos sintomas nesta fase como irritação, salivação excessiva, perda de apetite, febre baixa e distúrbios gastro intestinais. Como o bebê não identifica as partes do corpo e não tem consciência do que está acontecendo, ele pode ter a sensação exacerbada e se assustar. Atualmente contamos com recursos medicamentosos que podem amenizar esta fase dolorosa e que devem ser utilizados com indicação médica ou odontológica.
Na prática diária o mais adequado é oferecer alimentos frios ou gelados e também de consistência mais dura e mordedores que devem ser seguros para os bebês (não rasgar as partes e não conter líquidos, que podem ser ingeridos pelo bebê). A mamãe também poderá massagear o local com o dedo ou com uma dedeira. Esta é uma fase muito significativa para os pais e para os bebês sendo que para algumas famílias pode ser angustiante, mas é preciso ter calma, paciência e esperar este período passar!
Quando deve ser a primeira visita da criança ao odontopediatra?
Na época de erupção do primeiro dente orienta-se a primeira visita odontopediátrica, podendo ocorrer por volta dos 6 meses a 1 ano de idade, mesmo não apresentando problemas aparentes. É a oportunidade de se conversar com os pais sobre: sintomas da erupção, higiene, hábitos orais (sucção de chupetas, dedos e mamadeira), uso do flúor nos cremes dentais e aplicações tópicas em consultório, prevenção de acidentes, entre outros. Além disso, este período coincide com o fim da exclusividade da amamentação, quando precisam ser dadas importantes orientações sobre a introdução da alimentação complementar, visando o desenvolvimento da função mastigatória e consequente crescimento orofacial.
É possível um bebê não ter dentes?
Sim. Neste caso pode ser a ausência congênita de dentes classificada como hipodontia, quando um ou mais dentes estão ausentes, ou anodontia, quando ocorre ausência total da dentição de leite ou de ambas as dentições (de leite e permanente). Este termo também é empregado genericamente para indicar a ausência de um ou mais dentes. Em qualquer um destes casos, o bebê deverá ser avaliado por um odontopediatra.
Texto divulgado em 12/12/2012