Náuseas e vômitos são sintomas de ocorrência comum em lactentes, podendo ser decorrentes de problemas gastrenterológicos transitórios de caráter leve, ou mesmo processos de extrema gravidade.
A náusea é acompanhada de alterações autonômicas que precedem o refluxo retrógrado do duodeno para o antro, processo esse que inicia o vômito.
O vômito representa a expulsão com esforço do conteúdo gástrico, sendo acompanhado de contração da musculatura abdominal. O mesmo pode representar uma resposta fisiológica benéfica, no sentido de permitir expelir toxinas de alimentos contaminados. O vômito não precedido de náuseas ocorre especialmente nas afecções do sistema nervoso central, tais como lesões expansivas, edema cerebral e aumento de pressão intracraniana. As conexões entre a via aferente vagal, o centro encefálico e a área vestibular determinam o processo de vômito, ocorrendo ainda ação de substâncias como dopamina, morfina, acetilcolina, entre outros.
Refluxo Gastroesofágico
O vômito no período neonatal pode ser decorrente da doença do refluxo gastresofágico (DRGE). Regurgitações em graus variáveis e vômitos esporádicos são freqüentes no RGE fisiológico, sendo que o lactente apresenta boa aceitação alimentar e ganho ponderal satisfatório. Na DRGE, o vômito é de conteúdo alimentar, em geral em freqüência maior, muitas vezes precedido de náuseas. Freqüentemente, ocorre recusa alimentar acarretando desaceleração do ganho ponderal ou perda de peso. Os casos de vômitos volumosos com rápida perda de peso nas primeiras semanas de vida orientam no sentido de afastar afecções cirúrgicas do trato digestório, tais como a estenose hipertrófica do piloro.
Se houver referência de vômito de conteúdo bilioso, deve-se aventar a possibilidade de processos obstrutivos ou semi-obstrutivos do intestino delgado, tais como vícios de rotação, pâncreas anular, entre outros. Os casos de vômitos recorrentes no período neonatal, acompanhados de letargia e desidratação e afastadas as causas anatômicas, orientam o pediatra para descartar causas raras, tais como os erros inatos de metabolismo do ciclo da uréia e acidemias orgânicas.
As gastroenterites infecciosas são freqüentemente acompanhadas de vômitos na sua fase inicial de apresentação e, em geral, também por processos diarréicos. Esses episódios geralmente são auto-limitados e findam em poucos dias com a resolução do processo em questão.
Vômitos repetitivos por mais de 12 horas no período neonatal, 24 horas nos lactentes e 48 horas em crianças com mais idade, exigem pronta atenção do pediatra e demandam investigação completa no que tange aos exames laboratoriais e de imagem, dependendo dos sintomas e sinais acompanhantes. A gravidade do processo em questão decorre da presença de sinais neurológicos, condições de hidratação, distúrbios do equilíbrio ácido-básico, dor abdominal, sangramento do trato digestório e significante perda ponderal.
Relator: Dr. Mauro Sérgio Toporovski
Presidente do Departamento Científico de Gastroenterologia da SPSP; Responsável pela Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP.
Matéria publicada em Pediatra Informe-se – Boletim da SPSP Ano XXIII – No 134 – julho/agosto 2007
Assessoria de Imprensa – SPSP