É um momento de muita alegria para a vovó quando o(a) netinho(a) chega daescola, afoito, para perguntar suplicando: – vovó, você me ajuda a fazer a árvore da família? Preciso de muitas fotos. Ele(a) bem que tentou falar a palavra complicada – genealógica, mas saiu tropeçando nas letras.
Os diversos álbuns de família são retirados do armário. Parecem muitos aos olhos da avó, mas o(a) netinho(a) comenta: – só tem esses? Eu tenho mais fotos do que você.
Ah! Que delícia para a vovó ir explicando (esse “gerundismo” aqui vai bem!), foto a foto, quem são aqueles personagens exóticos. Tudo parece muito estranho para o(a) netinho(a), mas a vovó pensa e não fala: – “agora, até pra mim parece muito esquisito”.
A vovó aproveita a ocasião e filosofa para o(a) netinho(a): “quando você chegar na mesma idade que eu tenho agora, com certeza você vai rir muito com as suas próprias fotos… elas parecerão tiradas em outro mundo e você parecerá um alienígena”.
Conversa vai, conversa vem…
– Vó, por que todos nessas fotos estão paradinhos e olhando pra frente, sem ninguém dar uma risadinha?
– Você é muito observador(a). É verdade… naquele tempo, para se tirar uma foto tinha que se pensar muito – escolher um local, um cenário de fundo, uma roupa adequada e ficar como estátua, para nada sair errado. Naquela época,
os filmes de fotografia eram muito caros. Os filmes coloridos eram mais caros ainda. Cada rolo de filme dava para 12, 24 ou até 36 fotografias.
Depois de tiradas, tinham que ser levadas para uma loja especializada para revelar o filme: aí é que você via o que saiu. Às vezes, a constatação era muito triste – o filme queimou, ou a fotografia saiu tremida, enfim, ela não servia para nada. A grande maioria dessas fotos carece então de uma coisa
fundamental: a espontaneidade. O riso brota da espontaneidade, dessa liberdade em ser do jeito que se é ou está e de agir como quiser.
– Nossa vó, que chato.
– É, meu neto(a), por isso você tem mais fotos que a vovó. Hoje, as novas tecnologias tornaram esse aspecto da vida muito mais fácil. Todo mundo quer registar tudo em foto. Além disso, querem divulgar por aí nas redes sociais, não é mesmo?
– Claro, vó! Senão, qual é a graça?
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP


