A Fada e o Noel

 Hoje, a vovó quer contar uma história:
Episódio 4: A Fada e o Noel – um diálogo entre dois grandes personagens do imaginário popular
Vamos ouvir:

A Fada e o Noel

Papai Noel convidou a Fada Madrinha, em um Natal, para ajudá-lo a realizar os desejos das pessoas, mas ela impôs uma condição:
– Tudo bem, Noel, tenho o maior prazer em ajudá-lo, mas estabeleço uma condição: não aceitarei pedidos de: mais dinheiro, vida longa, superficialidades como autógrafo do artista tal, publicação de foto na revista ‘Caras’ ou vaidades como roupa de grife, carro do ano, silicone acolá, etc, etc.

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Noel, um pouco constrangido, quis entender melhor as razões da Fada. Perguntou, então:
– Você me deixou curioso com essas exigências, posso saber por quê?
– Claro que sim, Noel! É que nós, fadas, estamos um tanto decepcionadas com esta nossa atividade. Afinal, já desde o tempo do Homem de Neandertal que nós rodamos por este mundo afora tentando satisfazer os desejos do coração dos homens. Percebemos que, na grande maioria das vezes, o pedido atendido não acrescentou mais felicidade às suas vidas. Novamente, eles nos chamavam e queriam que satisfizéssemos mais outro pedido. Essa situação era tão comum que não havia fadas suficientes para conceder os pedidos da humanidade. O desejo é, por natureza, algo incompleto e desejo satisfeito é uma contradição por si mesmo e uma ilusão. Foi então que nos foi determinado que atendêssemos apenas um pedido por pessoa, durante toda a vida dela.
E Papai Noel retruca:
– Essa era a regra do jogo até agora, por que mudou?
– É verdade. No entanto, como os homens, mesmo tendo o pedido atendido, continuavam insatisfeitos e infelizes, nosso chefe estabeleceu mais essa mudança: restringiu o universo dos pedidos, excluindo aqueles que eu citei.
– Fada, desculpe a minha insistência, mas o que é que há de errado com viver mais, desfrutar de viagens, comidas, sentir-se atraente, ter autoestima elevada, enfim, aqueles prazeres todos que o dinheiro pode comprar?
– O problema, Noel, não está no pedido em si, mas na expectativa que se coloca em cima dele: as pessoas desejam ganhar felicidade e querem que a compremos em alguma loja, mas esse tipo de bem não está à venda.
– Onde a encontramos?
– Noel, cada pessoa tem que encontrar esta resposta por si mesma. Uma coisa eu já aprendi, por experiência na profissão – quando as pessoas aprendem a pedir bem, encontram alegria na vida, que dura, permanece. Sabe de uma coisa, desconfio que o caminho que leva à felicidade envolve o jeito de viver….
– Você está dizendo então que a felicidade não depende de momentos felizes e sim que pode ser um estado permanente?
– É isso, a felicidade depende do jeito que se caminha pela vida, não é um ponto de chegada.
– Mas Fada, essa exigência não é um tanto exagerada: afinal, a angústia da humanidade tem sido essa, encontrar um bom motivo para viver….
– Eu sei, Noel, mas nas minhas observações tenho visto que há pessoas que encontraram um caminho e nelas posso reconhecer alguns traços em comum: são gratas pela vida, sabem repartir o que possuem e tudo o que fazem é impregnado de entusiasmo.

Boas Festas e que todos nós procuremos seguir a mensagem acima!

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Relator:
Fernando Manuel Freitas de Oliveira
Pediatra, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP.
Membro da Comissão de Ensino e Pesquisa da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Texto extraído do livro: Sombra e Claridade. Enfrentando o desafio de viver. Fernando MF Oliveira. Editora Abba Press, São Paulo, 2013.