Relatores:
Marisa Lazzer Poit
Professora Assistente da Disciplina de Hebiatria do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC e Presidente do Departamento de Adolescência da SPSP
Marcelo Nunes Yampolsky
Médico Preceptor da Disciplina de Hebiatria do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina do ABC
Alcoolismo nunca foi problema exclusivo dos adultos. Pode também acometer os adolescentes. Hoje, no Brasil, causa grande preocupação o fato dos jovens começarem a beber cada vez mais cedo e as meninas, a beber tanto ou mais que os meninos. Pior, ainda, é que certamente parte deles conviverá com a dependência do álcool no futuro. Hoje nos deparamos frente a um enorme desafio entender os motivos pelos quais crescem cada vez mais os indicadores do uso de álcool na adolescência.
A adolescência é conhecida como um período de modificações físicas, psicológicas e sociais em busca de uma identidade adulta e seu novo papel na sociedade moderna. Faz parte da adolescência a necessidade de quebrar regras, buscar novas experiências, compartilha-las com o grupo de amigos e até mesmo romper com algumas normas, porém sempre dentro de um limite aceitável de normalidade. Fica difícil compreender quando esse limite é ultrapassado colocando em risco imediato sua vida e a de terceiros, com trágicas consequências para a sociedade que ao se deparar com aumento do número de mortes violentas de seus filhos, se torna enferma e imóvel perante a iminente tragédia.
Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) é importante notar que 48,3% dos adolescentes na faixa etária dos 12 aos 17 anos já beberam alguma vez na vida (52,2% rapazes; 44,7% moças). Desses, 14,8% usam álcool regularmente e 6,7% são dependentes. A pesquisa ressalta que estes dados se tornam mais alarmantes quando sabemos que quanto mais precoce o uso do álcool maior é o risco de dependência.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE-2009) elaborada pelo IBGE e pelo Ministério da Saúde 76% dos estudantes brasileiros nunca experimentaram o cigarro, mas 27% deles beberam nos últimos 30 dias. O consumo de álcool pelo adolescente é cerca de cinco vezes superior ao fumo.
Na tabela abaixo podemos visualizar o uso de álcool em diversas faixas etárias assim como seu grau de dependência.
Epidemiologia no Brasil: uso e dependência de álcool por gênero e faixa etária. | ||||
Uso na vida ( %) |
Uso na vida ( %) |
Dependência (%) |
Dependência (%) | |
Faixa etária | Homens | Mulheres | Homens | Mulheres |
12 – 17 anos | 52,2 | 44,7 | 6,9 | 3,5 |
18 – 24 anos | 78,3 | 68,2 | 23,7 | 7,4 |
25 – 35 anos | 85,6 | 67,6 | 20 | 7,1 |
> 34 anos | 82,1 | 59,5 | 16,1 | 5,1 |
Média | 77,3 | 60,6 | 17,1 | 5,7 |
Fonte: I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas, CEBRID, 2002 |
Segundo, o Ministério da Saúde os jovens são estimulados a beber desde cedo por influência da publicidade. A maioria dos países tem regras claras para veicular esse tipo de anúncio. No Brasil, esta prática geralmente vem associada ao poder, conquistas, homens e mulheres lindas numa verdadeira apologia ao bem estar e sucesso pessoal e profissional.
Na Espanha em 2002, um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostrou o impacto desfavorável do marketing e da promoção de bebidas alcoólicas entre os jovens resultando na permissão apenas para cartazes com advertências nas embalagens.
Recentemente jovens na Alemanha estão encharcando seus absorventes íntimos no álcool e colocando na vagina ou ânus. Prática também chamada de Slimming, e que tem o objetivo de esconder dos pais e da policia as garrafas de bebida, assim como o hálito, além de produzir os efeitos mais rápidos, já que a bebida é rapidamente absorvida não passando pelo processo digestivo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os governos regulem o mercado de venda de bebidas, em particular para pessoas mais jovens. Também sugere regulações e restrições à disponibilidade do álcool, políticas apropriadas para se evitar que motoristas dirijam bêbados e a redução da demanda, com impostos mais altos. Afirma ainda que é preciso que os governos forneçam tratamento para pessoas com problemas com o álcool e implementem programas e intervenções breves diante do uso perigoso e prejudicial da bebida.
Desta maneira, é preciso combater de forma enérgica o abuso de álcool no jovem atuando em diversos setores como educação escolar, orientação familiar, protagonismo juvenil, leis rigoroso contra o excesso de publicidade e o fácil acesso a bebida para que esses números e estatísticas não se tornem uma epidemia, contribuindo para mais uma doença crônica nos jovens com graves consequências na sua vida e de toda a sociedade.
Referências:
CARLINI, E. A. et al. I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil: Estudo Envolvendo as 107 Maiores Cidades do País – 2001. São Paulo:CEBRID,2002 Disponível em:<http://www.unifesp.br/dpsicobio/cebrid/levantamento_brasil/parte_1.pdf>.
Texto divulgado pela SPSP em 06/06/2011