Pagamos um preço alto pelas facilidades advindas com a modernidade. O rápido avanço tecnológico, que permite que sejamos vistos e ouvidos ao mesmo tempo por pessoas localizadas em diferentes lugares, não garante a nós mesmos uma atenção sobre nosso modo de viver, esse cada vez mais pressionado pelo tempo. Muitas vezes nos esquecemos que estamos sendo observados e imitados por nossas crianças e adolescentes.
Nas escolas nunca se falou tanto em déficits de atenção, TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), hiperatividade e falta de limites. Pais e educadores fazem coro na dificuldade em atrair as crianças e os jovens para a aprendizagem dos conteúdos escolares.
Não é por acaso que a palavra stress tornou-se lugar-comum na boca do homem
moderno, que vive segundo a ordem do discurso social: tudo ao mesmo tempo! A
conseqüência direta desse modus vivendie é uma grande dose de ansiedade,
muitas vezes, de difícil administração tanto para os adultos quanto para as
crianças e jovens. Não serão os exageros, o consumismo e a pressa da nossa
vida cotidiana uma tentativa de resposta – fracassada apriori – para o alto
grau de ansiedade que nos imputamos? Como compreender a relação entre o
tempo apressado e a ansiedade exagerada?
A aceleração das máquinas, da informação e das idéias pediu um homem mais
dinâmico e ágil na resolução de problemas visando atingir metas pré-estabelecidas. No entanto, o tempo que o sujeito precisa para fazer-se um sujeito do desejo, com intenções claras diante do mundo moderno, não coincide com o tempo apressado do discurso social. Esse tempo do sujeito do desejo implica tempo para o faz-de-conta, para o sonhar, o devanear, o conhecer, mas esse tempo não pode ser marcado pelo relógio.
Oferecer oportunidades para as crianças e adolescentes de conhecer o novo a partir de experiências significativas parece ser um bom caminho na prevenção dos estados patológicos de ansiedade. Neste sentido, cabe aos adultos: ajudar crianças pequenas para que coloquem em cena toda a curiosidade e o desejo de saber sobre si e sobre o mundo, permitir que as crianças maiores liberem sua imaginação e coloquem em prática o faz de conta dos super-heróis e das princesas e, em fase mais avançada, testemunhar os adolescentes no ensaio para uma vida adulta. A aposta dos pais em suas crianças e adolescentes é o passo inicial para que eles consigam viver o presente com toda intensidade favorecendo sua ligação com a história passada e com o futuro, duas dimensões aniquiladas pelo mundo moderno. Desse modo, a cada situação, somente a ansiedade básica para movê-la.
Relatora: Gislene Jardim – Presidente do Departamento Científico de Saúde Mental da SPSP – gestão 2007-2009; Psicanalista, Doutora
Texto recebido em 10/03/09 e divulgado em 24/03/2009.