Asma ou bronquite? Qual o diagnóstico do meu filho?

Bronquite é um termo genérico que significa apenas inflamação nos brônquios, que são os canais que levam o ar até os pulmões. Muita confusão se faz em relação ao nome correto.

Bronquite é um termo genérico que significa apenas inflamação nos brônquios, que são os canais que levam o ar até os pulmões. Existem várias causas de bronquite, como o fumo, infecções e processos alérgicos.

A “famosa” bronquite alérgica ou bronquite asmática, que é a causa mais importante nas crianças, é a mesma coisa que Asma e esse é o termo mais correto de se usar atualmente.


Asma é a doença crônica mais comum na infância, ocorrendo em 10 a 15% delas.
Quando não tratada é responsável por muitas faltas escolares, idas a pronto-socorros e internações. Quem tem asma possui os brônquios mais sensíveis do que o habitual. Por isso, diversos fatores como cheiros fortes (desinfetantes, tintas etc), cigarro, poeira, mudanças bruscas de clima e infecções virais (gripes, resfriados) irritam esses brônquios mais sensíveis, que acabam inflamando e fechando e levando aos sintomas da crise de asma que são tosse, chiado no peito e dificuldade para respirar. A falta de ar decorre da dificuldade que o ar tem para entrar e principalmente sair dos pulmões quando os brônquios ficam mais estreitos e isso produz um barulho que é o chiado, semelhante ao som de um assobio.

Alguns casos mais leves de asma podem ter como único sintoma a tosse persistente ou crônica, que pode durar semanas a meses. Essa tosse costuma ocorrer principalmente quando a criança se exercita, quando dá muita risada, quando fica perto de poeira ou cheiros fortes ou quando está resfriada. Também costuma piorar à noite, principalmente na madrugada e pela manhã. Esse tipo de tosse deve ser um alerta para o diagnóstico de asma e a tosse não vai melhorar enquanto um tratamento contra a asma não for iniciado.


Asma tem cura?
NÃO, A ASMA NÃO TEM CURA, MAS TEM CONTROLE. Atualmente existem tratamentos eficazes e seguros (tratamentos PREVENTIVOS) que ajudam a diminuir a inflamação dos brônquios e com isso deixá-los mais “resistentes”, no sentido da criança levar uma vida normal e ativa, sem entrar em crise.

O tipo de tratamento mais efetivo é à base de corticóides inalatórios formulados em spray (“bombinha”) e que devem ser aspirados pela criança através de um aparelho bem mais simples que um inalador, chamado espaçador. Existem também os corticóides inalatórios formulados em pó, que já vêm num dispositivo próprio para ser inalado. As substâncias mais freqüentemente usadas são: fluticasona, budesonida, beclometasona e ciclesonida.

Em muitos casos as crises vão diminuindo conforme a criança vai crescendo e então o tratamento preventivo pode até ser suspenso, mas sempre com avaliação médica.


Mas não seria perigoso usar corticóides, principalmente em crianças?
Corticóides orais ou injetáveis jamais devem ser usados a longo prazo em crianças, pois causam efeitos colaterais prejudiciais tais como, diminuição do crescimento, inchaço no rosto, aumento de pêlos, fraqueza nos ossos. Já os corticóides inalatórios são muito seguros, pois em primeiro lugar o remédio vai diretamente para o pulmão e quase nada vai para a corrente sanguínea, que é a via responsável pelos efeitos colaterais. Em segundo lugar, as doses usadas são muito baixas (microgramas). Portanto, é um tratamento comprovadamente muito seguro, que não vai afetar o crescimento e desenvolvimento da criança, não vai “viciá-la” e vai ajudar a evitar as crises asmáticas. Para se obter bons resultados deve ser usado por muitos meses, às vezes até por anos, na maioria dos casos.


Mas “bombinha” não faz mal para o coração?
Existem 2 tipos de remédios em spray. Um é o corticóide inalatório, que como já foi explicado é um anti-inflamatório e não tem qualquer ação no coração. O outro tipo de remédio que pode ser usado em bombinha ou em gotas na inalação é o broncodilatador de ação rápida (fenoterol, salbutamol).

O broncodilatador é o remédio que deve ser usado nas crises para abrir os brônquios que se fecharam e assim melhorar a tosse, o chiado e a falta de ar (tratamento de ALÍVIO). Todo broncodilatador acelera um pouco o coração e causa um pouco de tremores (efeitos colaterais). Porém, isso não vai ser perigoso e não vai prejudicar o coração quando usado na dose e intervalos corretos, conforme recomendação do médico. Quando a asma não é totalmente controlada com o corticóide inalatório, pode-se associar a eles, no tratamento do dia-a-dia, broncodilatadores de ação prolongada como o salmeterol ou o formoterol. Mesmo assim, se o paciente entrar em crise, tem que usar também o broncodilatador de ação rápida até melhorar.

Portanto, podemos ver que o tratamento da asma é dividido em 2 fases: o tratamento PREVENTIVO, que geralmente é prolongado e o tratamento de ALÍVIO das crises, que dura de 5 a 7 dias. Atualmente temos também disponíveis alguns tratamentos preventivos dados por via oral (montelucaste), que ajudam a desinflamar os brônquios quando usados a longo prazo.

Cada caso deve ser analisado individualmente para saber qual o melhor tratamento a fazer. E há casos de asma muito leves, com poucas crises durante o ano, que nem necessitam de tratamento preventivo. Nesses casos deve-se apenas começar o tratamento das crises bem precocemente, assim que elas se iniciarem.

Quando a crise não melhorar somente com os broncodilatadores, os corticóides orais por poucos dias podem ser necessários, mas devem ser usados após uma avaliação e orientação médica. Quanto melhor for o controle da asma, menos crises a criança terá, e se tiver, muito provavelmente, serão fracas e cederão com poucos dias de broncodilatador, que os pais já iniciarão o uso em casa, muitas vezes sem necessidade de correr para um pronto-socorro.


No caso do meu filho, como a asma é emocional, não adianta usar remédios!
ESSE CONCEITO, MUITO DIFUNDIDO ENTRE AS PESSOAS, NÃO É VERDADEIRO. A maioria dos problemas emocionais do paciente asmático é conseqüência da forma como ele é criado. Normalmente são crianças muito superprotegidas e sem limites porque todo mundo “tem muita pena” delas. Assim que a asma fica controlada com as medicações e os pais voltam a tratar a criança normalmente, ela passa a ter um comportamento muito melhor.


A minha rua ou a estrada tem muita poeira. Por isso meu filho sempre entra em crise. Para evitar isso, mantenho sempre as janelas fechadas!!
Os principais causadores da alergia são chamados alérgenos e se encontram dentro de casa. A poeira causadora da alergia é composta de vários componentes, tais como, fibras de tecido, restos de insetos e de alimentos, descamação da pele humana, caspas e pêlos de animais, pólens, ácaros e seus dejetos, bactérias e mofo. Tudo isso pode desencadear alergia numa pessoa predisposta, mas de todos esses, o mais importante causador da alergia é o ácaro.

O ácaro é um pequeno carrapato que vive no chão e frestas do ambiente, gosta de locais quentes e úmidos e se alimenta de restos de pele humana, mas foge da luz. Suas fezes também têm uma substância à qual a pessoa alérgica é altamente sensível. Tanto o ácaro quanto suas fezes se depositam entre fibras de tapetes, carpetes, estofados, colchões, travesseiros, agasalhos de lã, cobertores, etc. Quando inaladas essas substâncias desencadeiam no organismo da criança alérgica os sintomas característicos.

ASSIM O MAIS IMPORTANTE É DEIXAR O AMBIENTE ABERTO E BEM VENTILADO.


Mas eu preciso deixar meu filho em contato com a poeira para que ele “crie resistência”!!!
Na realidade a alergia é um “exagero da imunidade”. É a resposta excessiva do organismo a alguma coisa que deveria ser tolerada. Assim sendo, quanto mais exposto às substâncias que causam alergia, mais alérgica a criança vai ficando. Dessa forma é importantíssimo o cuidado do ambiente:

  1. Nunca varrer a casa, para evitar que a poeira levante; a limpeza deve ser feita apenas com pano úmido no chão e móveis, mesmo que a criança näo esteja presente;
  2. Remover tapetes, carpetes e cortinas, que juntam pó e dificultam arejar o quarto;
  3. Ao arrumar as camas pela manhä, se possível, retire os lençóis e sacuda-os fora de casa, na janela por exemplo, para retirar os restos de pele e de poeira;
  4. O colchão e travesseiro devem ser limpos e colocados ao sol toda semana, já que são o local da casa onde mais existem ácaros; se possível devem ser revestidos de plástico ou capas impermeáveis (antialérgicas);
  5. Os armários devem ser mantidos sempre de portas fechadas;
  6. Não devem ser usadas roupas de lã ou cobertores, mesmo que sejam anti-alérgicos; o mais importante em relação a eles, não é o tipo de fibra de que são compostos, mas o fato de que juntam muita poeira. Se não for possível se desfazer deles, devem ser encapados ou lavados a cada duas semanas;
  7. Evitar animais de pêlo e penas; dentro de casa são proibidos;
  8. Evitar uso de ceras, removedores, tintas, inseticidas, desinfetantes e perfumes;
  9. Manter o quarto bem limpo e arejado; brinquedos de plástico ou laváveis são preferíveis. Se houver brinquedos de pelúcia devem ser lavados uma vez por semana;
  10. Não fumar e não permitir que fumem perto de seu filho; o cigarro é extremamente prejudicial e pode desencadear as crises;
  11. Não permanecer em quartos úmidos e fechados, bem como evitar manipular livros e objetos guardados;
  12. Eliminar o mofo nas paredes;
  13. Evitar sofás de tecidos ou impermeabilizá-los e retirar almofadas;
  14. Eliminar baratas e insetos semelhantes;
  15. Evitar plantas dentro de casa.

Paralelamente, é importante não sobrecarregar a criança com proibições sem nexo, tais como, não poder pisar no chão descalça, não sair de casa por medo de vento ou frio, não tomar sorvete ou não ir à piscina. Também não se deve considerá-la dependente ou incapaz de realizar sua tarefas de forma adequada, pelo fato de ter asma.

Não tenha medo do diagnóstico de asma, pois essa é uma doença que quando devidamente tratada não vai alterar em nada a vida do seu filho. Há grandes atletas olímpicos com asma. Deve-se, sim, ter medo de deixar de tratá-la ou fingir que ela não existe e com isso impedir que seu filho tenha uma vida normal, como de qualquer outra criança.

NÃO DEIXE A ASMA TOMAR CONTA DE VOCÊ…TOME SIM, VOCÊ, CONTA DELA!

Links úteis:
www.sppt.org.br (Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia)
www.sbasp.org.br (ABRA – Associação Brasileira de Asmáticos – SP)

Relatoras:
Dra. Fabíola Villac Adde
Vice-presidente do Departamento de Pneumologia da SPSP – gestão 2004-2006; Médica Assistente Doutora da Unidade de Pneumologia do Instituto da Criança – Hospital das Clínicas – FMUSP, São Paulo, SP.

Dra. Lidia Alice G. M. M. Torres
Presidente do Departamento de Pneumologia da SPSP – gestão 2004-2006; Mestre e doutora pela FMRP-USP. Responsável pelo Serviço de Pneumologia da FMRP-USP, Ribeirão Preto, SP.

Texto original divulgado em abril/2006.
Texto atualizado em 24/08/2007.