Atividade física na infância e adolescência

Atividade física na infância e adolescência

A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem como meta o desenvolvimento sustentável até 2030, e entre seus objetivos (ODS 3) está o de saúde e bem-estar.

Promover a atividade física e reduzir o comportamento sedentário pode ajudar a alcançar estes objetivos. Quatro a cinco milhões de mortes por ano poderiam ser evitadas se a população global fosse mais ativa fisicamente. Estimativas globais indicam que 1 em cada 4 adultos e 3 em cada 4 adolescentes (11 a 17 anos), mais precisamente 27% de adultos e 81% de 11 a 17 anos, não atendem às recomendações de atividades físicas definidas pela OMS.

Diante deste cenário, a OMS lançou o “Let’s be active” (Vamos ser ativos), um plano global para estimular a atividade física. De maneira geral, a meta é reduzir a prevalência do sedentarismo entre adolescentes e adultos em 10% até 2025 e em 15% até 2030.

Sabemos que a prática regular de atividade física contribui para a prevenção e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, tais como doenças cardíacas, acidente vascular cerebral, diabetes, alguns tipos de câncer, bem como ajuda a prevenir a hipertensão, o sobrepeso e a obesidade e contribui para a saúde mental, melhoria da qualidade de vida e bem-estar.

Em crianças e adolescentes, a atividade física proporciona benefícios como melhora da aptidão física, saúde cardiometabólica, saúde óssea, cognitiva, contribuindo para melhor desempenho acadêmico e função executiva, saúde mental com a redução dos sintomas de depressão e redução de obesidade.

Segundo a OMS, crianças acima de cinco anos e adolescentes devem fazer pelo menos 60 minutos diários de atividade física moderada a rigorosa intensidade, dentre elas atividades aeróbicas e aquelas que fortalecem os músculos e ossos.

 

Diminuir o comportamento sedentário

Devemos estimular a criança à atividade física desde o nascimento.

Os primeiros 1.000 dias de vida, considerados os primeiros 3 anos de vida da criança, são cruciais para o crescimento e desenvolvimento, uma “janela de oportunidades” na qual os hábitos e as atividades irão influenciar o futuro da criança.

O brincar em movimento é fundamental para o amadurecimento saudável. Brincar é se movimentar e é tão necessário quanto o sono e a alimentação. Brincando, a criança põe o seu corpo em movimento, utiliza recursos motores e cognitivos, desenvolve coordenação, tonicidade muscular, equilíbrio, noção de espaço e tem consciência de suas possibilidades.

Temos o conceito de “Alfabetização Física” (“Physical Literacy”) definido como a habilidade, confiança e o desejo de ser fisicamente ativo por toda a vida. Inclui competência e habilidade de movimento fundamental, como pegar, pular, correr, chutar, aprimorar a agilidade, equilíbrio e coordenação.

É necessário que a criança se movimente de acordo com sua capacidade motora e cognitiva sob supervisão do adulto e sempre em ambiente seguro.

A competência e a confiança nas habilidades motoras são um forte protetor para a manutenção de níveis de atividade física na infância, adolescência e na vida adulta.

Em suma, nos primeiros anos de vida devem ser introduzidas atividades lúdicas; os bebês devem ser estimulados a se movimentar em curtos períodos de tempo várias vezes ao dia. Crianças com mais de dois anos e que já conseguem andar, devem ser estimuladas a fazer atividades fracionadas (brincadeiras) durante 180 minutos por dia, como ficar em pé, andar, saltar, correr, à medida que forem adquirindo coordenação e habilidade para tal função.

Crianças maiores, de 3 a 5 anos de idade, devem também ter pelo menos 180 minutos fracionados durante o dia. Os adultos devem oferecer oportunidades para brincadeiras livres e atividades não estruturadas, com uma variedade de movimentos e em ambientes variados, com atividades ao ar livre e contato com a natureza, em ambiente seguro.

Crianças acima de 5 anos, como recomenda a OMS, devem acumular 60 minutos de atividades diárias de moderada a rigorosa intensidade, incluindo um programa de fortalecimento muscular e flexibilidade três vezes por semana, intercalando com as atividades aeróbicas. As atividades já podem ser mais estruturadas.

Fundamental é evitar o comportamento sedentário!

Até 2 anos, o tempo de tela deve ser zero.

De 3 a 5 anos de idade, o tempo de tela deve ser de até 2 horas por dia. Acima de 6 anos esse tempo pode ser de até 2 horas por dia além das horas necessárias para trabalhos escolares.

Muito importante incluir uma avaliação médica pré-participação esportiva, como avaliação cardiológica, puberal, nutricional. Avaliação da composição corporal e características anatômicas e mecânicas que possam facilitar a ocorrência de lesões. Identificar doenças preexistentes e⁄ou deficiências.

Uma atenção especial deve ser dada à hidratação durante os exercícios.

Cuidados também envolvem a prática de exercícios de alta intensidade. Evitar a especialização precoce. Respeitar a individualidade de cada jovem. Os exercícios mais elaborados devem ser supervisionados e prescritos por profissionais capacitados e especializados em crianças e adolescentes.

As crianças e os adolescentes precisam principalmente ser expostos a atividades prazerosas. O mundo tecnológico é imediatista e atraente, mas também tem sua importância; contudo, brincar, exercitar-se e interagir com outras pessoas no mundo físico é fundamental (e os adultos precisam participar).

Estamos diante da geração que viverá 100 anos. Devemos, portanto, incentivar e orientar de forma adequada hábitos saudáveis, priorizando a atividade física e o exercício, para que essa geração cresça e entre na maturidade com qualidade de vida e em movimento por 100 anos ou mais.

Viva o Dia Mundial da Atividade Física!

 

Relatora:
Denise Derani Gomes
Secretária do Núcleo de Estudos da Prática de Atividade Física e Esportes na Infância e Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo