Câncer infantil: avanços científicos e terapêuticos

Câncer infantil: avanços científicos e terapêuticos

Em 15 de fevereiro, celebra-se o Dia Internacional de Combate ao Câncer Infantil, data que une a comunidade médica e científica para promover discussões sobre epidemiologia, inovações terapêuticas e desafios enfrentados na oncologia pediátrica. Criado em 2002 pela Childhood Cancer International (CCI), o dia visa incentivar políticas públicas, investimentos em pesquisa e o aprimoramento das estratégias de diagnóstico e tratamento.

O câncer infantil representa cerca de 3% dos casos de câncer no mundo, com 8.500 novos casos anuais no Brasil (na faixa etária de 0 a 19 anos), em comparação com quase 500.000 casos anuais entre adultos. Diferente do câncer em adultos, em que predominam os carcinomas (tumores epiteliais), nas crianças as leucemias agudas (tumores das células sanguíneas) são mais comuns, seguidas por tumores no sistema nervoso central, linfomas (gânglios linfáticos) e tumores abdominais, como o neuroblastoma (suprarrenal) e o tumor de Wilms (renal).

Ao contrário dos adultos, no câncer infantil não há prevenção primária, como a adoção de hábitos saudáveis (não fumar, alimentação balanceada, proteção solar), que pode ajudar a prevenir o aparecimento de diferentes tipos de câncer.

Os cânceres infantis surgem devido a mutações em células imaturas, o que faz com que esses tumores cresçam rapidamente e de forma agressiva, mas ao mesmo tempo respondam bem ao tratamento. Com o avanço das terapias quimioterápicas, técnicas cirúrgicas e radioterápicas, além dos estudos genômicos (genômica é um campo da ciência que avalia a interação entre os genes e o meio ambiente), hoje é possível identificar mutações e vias metabólicas alteradas, permitindo abordagens mais precisas para diagnóstico precoce e classificação molecular na oncogenética (uma área da medicina que estuda a predisposição genética ao câncer), possibilitando o desenvolvimento de diferentes formas de terapia-alvo (é um tratamento que usa medicamentos para atacar células cancerígenas, poupando as células saudáveis), tais como os inibidores de tirosina quinase, e a imunoterapia através do uso de anticorpos monoclonais (proteínas que ajudam a combater doenças cancerígenas) e terapia CAR-T cell (células de defesa do organismo que são geneticamente modificadas para combater o câncer) que revolucionaram a oncologia pediátrica, proporcionando, quando bem indicados, estratégias menos tóxicas e mais eficazes.

 A implementação de biomarcadores moleculares e técnicas avançadas de imagem, como PET Scan e ressonância magnética de alta resolução, têm melhorado significativamente a precisão e a rapidez do diagnóstico, o que impacta positivamente as taxas de sobrevida. Quando diagnosticado precocemente, o câncer infantil tem taxas alvissareiras de cura superiores a 80%.

No entanto, no Brasil ainda há desafios relacionados ao atraso no diagnóstico, muitas vezes devido ao desconhecimento dos sinais de alerta ou ao receio de se pensar na possibilidade de câncer. É importante reconhecer alguns sintomas de alerta, como:

  • Hematomas e equimoses que aparecem rapidamente, associados a palidez e febre;
  • Dor de cabeça persistente, acompanhada de vômitos e, por vezes, alterações na marcha ou no comportamento;
  • Aumento progressivo dos linfonodos (ínguas) que não estão associados a processos infecciosos e não reduzem com o tempo;
  • Aumento do volume abdominal ou a presença de uma massa (tumor) na barriga da criança;
  • Aparecimento de uma mancha esbranquiçada na pupila quando exposta à luz, conhecida como leucocoria (o reflexo do olho do gato).

Esses são apenas alguns dos sinais, mas existem outros. O câncer infantil tem cura, e para melhorar as chances de sucesso no tratamento é fundamental que o diagnóstico seja feito de forma precoce. Para isso, é necessário promover campanhas de conscientização sobre os sinais e sintomas precoces da doença, aumentar a disseminação de conhecimento sobre oncologia pediátrica, apoiar pesquisas e ampliar a rede de hospitais e centros especializados em tratamento do câncer infantil no país. Fique atento à presença ou persistência desses sinais e, na dúvida, procure rapidamente um pediatra ou um hospital especializado.

 

Relator:
Roberto Augusto Plaza Teixeira
Secretário do Departamento Científico de Oncologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo