Leite Humano e Prematuridade

Leite Humano e Prematuridade

Recém-nascido pré-termo (RNPT) é aquele que nasce com idade gestacional inferior a 37 semanas. No Brasil, cerca de 11,5% dos nascimentos ocorrem prematuramente, ou seja, 340 mil recém-nascidos (RN) por ano. Prematuridade é a primeira causa de óbito neonatal em nosso país.

Novembro é o Mês Internacional de Sensibilização para a Prematuridade, denominado “Novembro Roxo”, pois a cor roxa simboliza Sensibilidade, Individualidade e Transformação. Comemora-se em 17 de novembro o Dia Mundial da Prematuridade, com o objetivo de elaborar estratégias para a redução das taxas de prematuridade.

Os RNPT apresentam maior risco de evoluir com doenças crônicas e cardiovasculares, alterações no padrão de crescimento, atraso no desenvolvimento sensorial, motor e cognitivo. Sua mortalidade é cerca de três ou mais vezes maior quando comparada à de RN de termo.

Dentre as propostas estabelecidas para prevenir ou minimizar os agravos, o uso de leite humano (LH), de preferência da própria mãe, é o padrão ouro de nutrição. O LH produzido por mães de RNPT possui, nas primeiras duas a quatro semanas de lactação, maiores concentrações de nitrogênio, proteínas nutritivas, gorduras e vitaminas, calorias e função imunológica em relação ao leite de mães de RN de termo.

A utilização do leite cru da própria mãe resulta em efeitos benéficos inigualáveis para: digestão e absorção de nutrientes; estímulo da imunidade por proteção direta e ação imunomoduladora; desenvolvimento neurológico e cognitivo; proteção contra sepse (redução de 50%), enterocolite necrosante, displasia broncopulmonar e retinopatia da prematuridade; desenvolvimento do sistema sensório-motor oral e redução de má oclusão dentária em 68%; redução da prevalência de doenças atópicas, alérgicas e autoimunes, de obesidade e doenças do adulto; efeito psicológico na relação mãe-filho. Existe ainda um efeito protetor adicional, através do qual a mãe colonizada pelas bactérias da UTI neonatal pode sintetizar anticorpos específicos contra os patógenos hospitalares e excretá-los no leite.

O colostro, leite produzido até o 7º dia de vida, possui reconhecidas propriedades anti-infecciosas e imunomoduladoras. A colostroterapia, também chamada de colostro precoce, consiste na administração de pequenas alíquotas na cavidade oral, desde as primeiras horas de vida, para proteger os RNPT até o início da nutrição “verdadeira”.

Portanto, conclui-se que alimentar o RNPT com LH, de preferência da própria mãe ou, na falta deste, pasteurizado em banco de leite humano, torna sua trajetória mais suave, resultando em melhor desenvolvimento.

 

Relatora:
Valdenise Martins Laurindo Tuma Calil
Assistente do Centro Neonatal do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
Diretora do Banco de Leite Humano do Hospital das Clínicas (FMUSP)
Membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo