Não deixe criança pequena sem supervisão nem por um segundo!

Vivemos numa sociedade onde a inversão de valores prejudica o ensinamento do “certo” e do “errado”. Há alguns dias, um garoto de 3 anos e 9 meses foi manchete após salvar o amiguinho de 3 anos e 6 meses que estava se afogando. Cena típica: 2 crianças e um brinquedo boiando na piscina. A criança menor se debruça na beirada, tentando alcançar o brinquedo, desequilibra-se e cai. Alguns segundos se passam, quando a outra, ao olhar em volta e ver que não havia ninguém por perto, estica o braço e puxa a criança que estava se afogando para fora da água. A cena foi gravada por câmeras de segurança e o ato do pequeno herói “viralizou”.

Paha L | depositphotos.com

Uma cena impressionante, sem dúvida nenhuma. Impressionante que uma criança de 3 anos tenha tido a força de tirar a outra da água, sem cair junto. Impressionante que não havia nenhum adulto responsável a “um braço” de distância dessas crianças tão próximas da água. Impressionante que não havia cercas em torno da piscina que impedissem a aproximação das crianças e, impressionante que uma delas estava usando boias de braço, que dão uma falsa sensação de segurança, pois escapam com frequência dos braços.
Afogamento é a 2a causa de morte na faixa etária desses meninos. Muitas crianças perdem a vida ou sobrevivem com sequelas, por falha de supervisão.
Nós, do Departamento de Segurança da Sociedade de Pediatria de São Paulo, da Sobrasa (Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático), assim como outras entidades que se preocupam com a segurança de nossas crianças, reiteramos as seguintes premissas:

  1. A criança pequena de até 5 anos, no mínimo, deve ter a supervisão de um adulto que esteja atento a ela e a um braço de distância, caso esteja na água ou perto dela;
  2. Piscinas devem, preferencialmente, estar isoladas por grades de pelo menos 1,5m de altura, com espaço de até 12 cm. Portão com tranca, cadeado, para que não sejam acessadas sem adultos presentes;
  3. O modelo de boia ideal é o “colete salva-vidas” e seu uso não descarta a necessidade da supervisão próxima de um adulto.

Vivemos numa sociedade onde há uma certa inversão de valores: Louvamos a “responsabilidade” de uma criança e deixamos de condenar a irresponsabilidade de um adulto. Dessa vez, tudo acabou bem….

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Relatora
Dra. Tânia Zamataro
Presidente do Departamento Científico de Segurança da Sociedade de Pediatria de São Paulo.