O paradoxo das redes sociais x solidão

O paradoxo das redes sociais x solidão

Os novos meios digitais – como smartphones, tablets, notebooks, consoles de jogos eletrônicos, entre outros – ocupam um espaço cada vez maior na vida de crianças e adolescentes. Paralelamente, pais e educadores têm observado uma crescente sobrecarga imposta por essas tecnologias, cujos impactos vão muito além do entretenimento.

Diversos estudos científicos e observações de especialistas apontam que o contato saudável com as novas mídias depende do respeito aos estágios do desenvolvimento biológico, psicológico e social dos jovens. Isso significa que a introdução e o uso das tecnologias devem acompanhar, de forma responsável, a maturidade de cada faixa etária.

É fundamental, portanto, oferecer orientações claras sobre os riscos associados às mídias digitais. Isso inclui cuidados com o comportamento nas redes, prevenção à dependência tecnológica, proteção da privacidade, conscientização sobre conteúdos inadequados e perigos on-line, além das implicações legais e dos impactos à saúde causados pela exposição excessiva às telas. É necessário também revisar medidas de proteção e estabelecer protocolos preventivos para lidar com possíveis ameaças de forma eficaz.

Devemos buscar um equilíbrio entre, de um lado, as necessidades e interesses dos jovens e, de outro, as restrições necessárias para protegê-los, incluindo o uso criterioso de softwares de segurança. Para isso, torna-se indispensável uma educação midiática preventiva, conduzida por pais e educadores, que considere o estágio de desenvolvimento da criança e reforce experiências no mundo real, promovendo o contato com a natureza, os vínculos afetivos e a socialização.

Mais do que nunca, precisamos cuidar dos pilares essenciais da saúde infantil: alimentação equilibrada, prática de atividades físicas, brincadeiras lúdicas, convívio social, sono de qualidade, hidratação, exposição ao sol, espiritualidade e contato com a natureza.

Reconhecemos os avanços positivos que a tecnologia proporcionou, especialmente durante a pandemia. No entanto, não podemos negligenciar nossa responsabilidade – como pais, educadores e profissionais de saúde – de proteger crianças e adolescentes dos danos associados ao uso excessivo e inadequado das telas.

Essa é uma responsabilidade compartilhada por todos: professores, pediatras e especialistas devem orientar famílias e comunidades para enfrentarmos juntos os desafios impostos pelas mídias digitais e redes sociais.

No dia 30 de junho, celebramos o Dia Mundial das Redes Sociais. Para que essa data possa, de fato, ser comemorada com sentido, precisamos garantir que nossas crianças e adolescentes não percam seus vínculos essenciais: com a realidade, com a família, com a sociedade e com a natureza. Afinal, sem esses laços, corremos o risco de formar uma geração órfã de experiências fundamentais ao seu pleno desenvolvimento – físico, emocional, social e espiritual.

Unamo-nos por essa causa. Que o ser humano não se transforme em objeto ou mercadoria, nem se isole a ponto de adoecer na solidão. É nosso dever coletivo preservar o que nos torna verdadeiramente humanos.

 

Relatora:
Silvia Guiguer Chaim
Vice-Presidente da Regional do Grande ABC da Sociedade de Pediatria de São Paulo