Oxigenoterapia domiciliar para crianças

Lucia Fontes
Assessoria de Imprensa da Sociedade de Pediatria de São Paulo

Um dos destaques da Revista Paulista de Pediatria de setembro de 2010 é o artigo de autoria de Elaine Aparecida Lopes Garcia e colaboradores sobre um programa de oxigenoterapia domiciliar, com uso de concentrador de oxigênio, utilizado por crianças egressas de uma unidade neonatal ao longo dos seus primeiros dez anos.

Conforme explicam os autores, a oxigenoterapia domiciliar é utilizada há aproximadamente 50 anos, mas a confirmação de que tal terapêutica promove a qualidade e prolonga a expectativa de vida de adultos com doença pulmonar obstrutiva crônica chegou apenas a partir da década de 70. Com os avanços tecnológicos no tratamento de recém-nascidos muito prematuros, a displasia broncopulmonar (DBP) passou a figurar como causa de internação prolongada pela dependência crônica de oxigênio. Considerando que o aumento do tempo de internação é acompanhado de risco de infecções hospitalares, separação familiar e altos custos para as instituições de saúde, a implantação de programas de oxigenoterapia domiciliar tem importante implicação médica, econômica e social. Nesse contexto, o estudo realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo, teve por objetivo descrever os resultados do uso de oxigênio domiciliar, com sistema de concentrador de oxigênio, de um o programa de uma unidade neonatal de um hospital público universitário no período de novembro de 1996 a dezembro de 2006.

“O estudo tem como objetivo divulgar uma modalidade terapêutica para recém-nascidos que já é utilizada no exterior, em vários países como Chile, Austrália, Reino Unido”, afirma Elaine Aparecida Lopes Garcia, uma das autoras do artigo e também mestre em Saúde da Criança e do Adolescente e enfermeira assistencial do serviço de Neonatologia do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM) da Unicamp. No Brasil o uso de oxigênio domiciliar é restrito a grandes centros urbanos, sobretudo em adultos, e existe uso esparso em algumas unidades neonatais da região sul e sudeste. “Nosso estudo descreveu um grande número de casos, acompanhados nos primeiros meses de vida num período de 10 anos, demonstrando que há segurança deste tratamento, mesmo para populações mais carentes de recursos atendidas num hospital público universitário”, diz Elaine. Os autores do estudo acreditam que essa terapia apresenta algumas dificuldades para implantação devido à realidade sócio-econômica e falta de apoio do sistema de saúde que deveria dar suporte a este tipo de paciente. No entanto, a pesquisa visou divulgar a experiência da Unicamp com esta modalidade de tratamento e estimular o seu uso em escala mais ampla. “Não existem estudos sobre o item em recém-nascidos, no âmbito nacional, e nós enxergamos a importância de demonstrar que este tipo de terapia é factível no nosso meio, seguindo os critérios para segurança do paciente”, destaca Elaine.  

Segundo Elaine, estando os resultados do estudo acessíveis por meio da Revista Paulista de Pediatria e da SciELO, ele contribuirá para que outros serviços desenhem programas de oxigenoterapia domiciliar similares e que as famílias dos recém-nascidos que permanecem internados em unidades pediátricas ou neonatais apenas pelo uso de crônico oxigênio possam discutir e solicitar este tipo de terapia aos seus médicos. “De forma individual, aproxima o recém-nascido do convívio familiar, facilitando eu desenvolvimento e reduzindo a permanência hospitalar, sempre estressante. De forma coletiva, como o programa estudado reduz enormemente os gastos hospitalares (fato bem demonstrado em países mais ricos como a Inglaterra), por reduzir o tempo de internação de recém-nascidos dependentes de oxigênio, a sua concretização permite um melhor aproveitamento de recursos financeiros que são escassos no nosso meio e disponibiliza leitos para internação de outras crianças gravemente doentes”, finaliza Elaine Aparecida Lopes Garcia.

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Texto divulgado em 17/09/2010.