Segurança de crianças e adolescentes na internet

Desde há algumas décadas identificou-se a extraordinária influência da mídia na vida de todos nós e, principalmente, na das crianças e adolescentes. Inicialmente o problema relacionava-se à televisão, mas com o advento da Internet, esta passou também a ocupar um lugar de destaque como veículo formador de opiniões.
Todos os dias milhares de crianças e adolescentes surfam pela World Wide Web e a cada um cabe escolher aquilo que deseja ler, ver ou ouvir, não se controlando e nem é possível fazê-lo, a qualidade de tudo que é publicado.

As crianças podem desfrutar de grandes benefícios ao usar a rede como rica ferramenta educacional e também de lazer sadio, mas são justamente elas, por serem crédulas e curiosas, as presas mais fáceis de criminosos e exploradores de toda sorte. Os adolescentes, muito mais que as crianças menores, constituem um grupo de risco particularmente importante visto estarem expostos a discussões on-line, onde buscam relacionamentos e atividade sexual, além de terem uma supervisão muito mais difícil. A falsa sensação de segurança que o anonimato propicia faz com que os diálogos freqüentemente se tornem mais pessoais e íntimos do que se tornariam numa conversa face a face com estranhos.

O fato de que centenas de crimes têm sido cometidos on-line não constitui razão suficiente para impedir o acesso de crianças à rede – elas irão usar, e muito, as suas habilidades no computador em atividades futuras, parecendo ser uma estratégia muito mais interessante e eficaz, instruí-las quanto aos benefícios e perigos que o cyberspace oferece, do mesmo modo que se ensinam medidas de segurança para aquelas que vão à escola ou simplesmente brincar na rua.

Pais modernos devem estar a par dos riscos a que seus filhos ficam expostos ao surfar pela Internet:

  1. Exposição a material inapropriado: sexual – milhares de fotos, vídeos mostrando toda sorte de perversões, violento, odioso, que encoraje atividades perigosas ou ilegais, ideológicos, vulgares etc.
  2. Violência física: a criança pode passar informações on-line que coloquem em risco a sua segurança e a de sua família, por exemplo, fornecendo dados pessoais como seu nome, colégio onde estuda, endereço, profissão dos pais, características de sua casa, marcando encontros, etc.
  3. Legais e financeiros: há também a possibilidade de cometer crimes como realizar compras com o cartão de crédito, movimentar aplicações e contas bancárias, participar de leilões, jogar em cassinos virtuais, invadir sites, colar em provas, etc.
  4. Oportunidade de experimentar jogos extremamente violentos e inclusive de fazer download de versões para demonstração.
  5. Exposição a uma comunidade praticamente infinita, incontrolável: embora a maioria das pessoas navegando pela WWW seja bem intencionada, muitos não o são, podendo tratar-se de ladrões, assassinos, pedófilos, traficantes e usuários de drogas, membros de seitas e ordens diversas, de gangs, que exploram a violência, o sexo, o jogo, as drogas e os vícios em geral.

É importante conhecer a atividade dos pedófilos: trata-se de homens e mulheres, pertencentes a todas as camadas sociais, que colecionam materiais pornográficos – vídeos, fotos, revistas etc – produzido com crianças e os utilizam para ajudar na sedução de suas vítimas, fazendo-as crer que o que está sendo proposto é aceitável; sempre trabalham discretamente e muitos exercem atividades que os colocam naturalmente dentro do mundo infantil.

Os pais devem estar atentos a alguns sinais de alarme que podem sugerir o uso indevido da Internet:

  1. Uso excessivo, especialmente em altas horas da noite;
  2. Uso de chat – salas de conversação – sem moderadores e sobre temas obscuros. Estas salas de conferência oferecem grande perigo por expor a criança a trocas não desejadas e imprevisíveis;
  3. Download – baixa para o computador – de grande quantidade de arquivos de figuras, provavelmente, pornográficas;
  4. Encontros com pessoas estranhas sem uma explicação razoável.

Outras evidências podem levar à suspeita de que uma criança ou adolescente possa estar sofrendo alguma forma de abuso, aqui entendido como qualquer forma de maltrato físico, emocional ou sexual – como o aparecimento de:

  1. Agressividade excessiva;
  2. Marcas de chupadas e mordidas auto-infligidas;
  3. Crises histéricas.
  4. Distúrbios de fala e de sono;
  5. Sentimentos negativos em relação a si próprio;
  6. Faltas à escola ou queda abrupta de rendimento;
  7. Comportamento destrutivo;
  8. Dificuldade em permanecer sozinho na companhia de algumas pessoas;
  9. Mudanças súbitas de personalidade;
  10. Utilização de termos pouco usuais ou novos nomes para partes do corpo.

* Lembrar que alguns destes sinais e sintomas ocorrem em outras situações como em usuários de drogas, por exemplo.

O que os pais podem fazer:

  1. Ensinar aos seus filhos os riscos que eles correm usando a Internet, ao marcar encontros com desconhecidos, ao fornecer informações pessoais, ao freqüentar salas de conversação etc.
  2. Navegar juntamente com eles, orientando-os sobre aquilo que está acontecendo e para isso é necessário que se interessar pela Internet e parar de achar que ela é coisa para a nova geração;
  3. Manter o computador em uma sala de uso comum da casa, limitando o tempo de sua utilização;
  4. Controlar o tempo que seus filhos passam on-line;
  5. Verificar por onde seus filhos têm passeado quando estão sozinhos, o que pode ser feito consultando o histórico de acessos.
  6. Escolher um provedor que ofereça recursos para bloquear áreas não desejadas;
  7. Conhecer e instalar softwares que permitem controlar e limitar o acesso a sites inconvenientes;
  8. Considerar compartilhar o seu e-mail com seus filhos.

Regras básicas para os filhos:

  1. Nunca fornecer a sua senha para outras pessoas conhecidas ou não;
  2. Jamais revelar informações pessoais como seu nome, onde você mora ou os nomes de seus pais e irmãos, o número do seu telefone e qual é sua escola;
  3. Jamais enviar fotografias suas ou de sua família a desconhecidos através da Internet;
  4. Não dar prosseguimento a conversas que o façam sentir-se desconfortável ou que se tornaram demasiadamente pessoais. Informe seus pais se isto ocorrer;
  5. Informe-os também se receber comunicações ameaçadoras ou com linguajar baixo;
  6. Nunca concordar em se encontrar com alguém que você conheceu através da Internet sem o conhecimento de seus pais.
  7. Não aceitar produtos ou oportunidades oferecidos através da Internet.
  8. Nunca preencher cadastros on-line – questionários com informações pessoais – sem a aprovação de seus pais;
  9. Lembrar-se de que as pessoas na Internet podem ser qualquer um, em qualquer lugar e que nem sempre são o que e quem dizem ser;
  10. Cuide de você e de sua família.

* Sugere-se imprimir estas regras e afixá-las ao computador, para que a todo momento sejam lembradas.

Relator: Dr. Dr. Ulysses Dória Filho
Membro da Comissão de Relações Comunitárias da SPSP gestão 2007-2009; Assessor de Internet da SPSP – Gestão 2004-2006; Responsável pelo Núcleo de Consultoria e Apoio Metodológico e Estatístico do Instituto da Criança do HC da FMUSP; Membro do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da SBP; Médico chefe do Serviço de Pediatria do Hospital Santa Marcelina, São Paulo, SP.
Texto original divulgado na gestão 2004-2006 e atualizado em 18/10/2007.