Sífilis congênita ainda é um problema sério

Sífilis congênita ainda é um problema sério

A sífilis congênita é uma doença evitável, causada pela disseminação pelo sangue da bactéria Treponema pallidum, com alto risco de transmissão ao feto quando a gestante contaminada não é testada durante o pré-natal ou na ausência de tratamento adequado. Podendo ocorrer em qualquer etapa gestacional, a doença é transmitida pela placenta (transmissão vertical) e, em casos mais raros, durante o nascimento, por contato direto com lesões de sífilis no canal de parto.

O diagnóstico e o tratamento da mãe são essenciais, uma vez que a doença pode resultar em aborto, nascimento prematuro e bebês com baixo peso. A gestante é considerada adequadamente tratada quando a terapia for compatível ao estágio da doença, com administração exclusiva de penicilina benzatina iniciada no mínimo 30 dias antes do parto, de preferência com tratamento simultâneo do parceiro sexual ou com uso regular de preservativos nas relações sexuais. O prognóstico da sífilis congênita está ligado à gravidade da infecção intrauterina e à época em que o tratamento foi instituído; portanto, quanto mais precocemente tratar, menor será o prejuízo para o recém-nascido.

Porém, quando ocorre a transmissão para o feto, mais de 70% das crianças com sífilis congênita são assintomáticas ao nascimento. Por isso é muito importante a triagem sorológica da mãe e do recém-nascido ainda na maternidade. Todas as gestantes devem realizar o teste rápido para sífilis e coleta de sangue periférico de todos os recém-nascidos cujas mães apresentaram VDRL reagente na gestação, no parto ou na suspeita clínica de sífilis.

A associação de critérios epidemiológicos, clínicos e laboratoriais deve ser a base para o diagnóstico assertivo da sífilis na criança. Outros exames, como hemograma, radiografia de ossos longos e coleta de liquor podem ser solicitados para confirmação e tratamento. Assim como na sífilis materna, o tratamento é realizado exclusivamente com penicilina por dez dias.

A síndrome clínica da sífilis congênita pode se manifestar de forma precoce, com sintomas observados nos três primeiros meses de vida, ou tardia, com surgimento de sinais após os dois anos de idade.

Entre os sintomas da sífilis congênita precoce estão anemia, aumento do fígado ou do baço, icterícia, lesões de pele nas palmas das mãos e plantas dos pés, secreção nasal serossanguinolenta, meningite e alterações radiológicas, como lesões ósseas.

Já na sífilis congênita tardia, as manifestações incluem tíbia em ‘lâmina de sabre’, fronte olímpica, nariz em sela, dentes incisivos medianos superiores deformados (dentes de Hutchinson), mandíbula curta, arco palatino elevado, ceratite intersticial e distúrbio auditivo, além de alterações oftalmológicas e dificuldade de desenvolvimento e aprendizado.

 

Assistência e prevenção

A medida de controle da sífilis congênita mais efetiva é toda gestante ter uma assistência pré-natal adequada. Para isso, é essencial a realização de, no mínimo, seis consultas com atenção integral qualificada; realização do exame VDRL no primeiro trimestre da gestação (idealmente na primeira consulta) e segundo teste em torno da 28ª semana, com ações direcionadas para busca ativa a partir dos testes reagentes (recém diagnosticados ou em seguimento); uso de preservativo nas relações sexuais durante a gestação; tratamento adequado da gestante e do parceiro. Só com a atenção pré-natal qualificada e estendida a todas as gestantes será possível reduzir os índices de sífilis materna e, consequentemente, os casos de sífilis congênita.

 

Relatora:
Lilian dos Santos Rodrigues Sadeck
Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo

 

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