Texto divulgado em 30/04/2025
“Nas primeiras máquinas a vapor, um menino era sempre usado para abrir e fechar alternadamente a comunicação entre a caldeira e o cilindro, conforme o pistão subisse ou descesse. Um desses meninos, que gostava de brincar com seus companheiros, notou que, atando um cordão da alavanca da válvula que abria essa comunicação a outra parte da máquina, a válvula se abriria e fecharia sem a sua assistência, deixando-o livre para divertir-se com colegas de brincadeira. Um dos maiores aperfeiçoamentos feitos na máquina foi, assim, descoberta de um menino que queria poupar-se de trabalho”. Esta história real é descrita no livro de Adam Smith, a Riqueza das Nações (1786).
Uma criança qualquer, que nem sabemos o nome, que não tinha a menor ideia de quão importante fora a inteligente e engenhosa modificação que fizera, ajudou a aperfeiçoar a máquina a vapor, que pode ser identificada como um símbolo emblemático da 1ª Revolução Industrial.
Aquela criança pretendia, apenas, com a sua intervenção naquele motor, livrar-se da atividade sem graça para ter mais tempo para brincar. Em sua singeleza identificou como inaceitável uma atividade repetitiva monótona, que não lhe trazia nenhuma alegria, nem emoção. Uma chatice. Um trabalho alienante. No século XVIII, o trabalho infantil era permitido e incentivado. Hoje, avançamos muito, e sabemos que o melhor para a vida de uma criança é brincar, para poder criar brincando.
Neste dia, através dessa história real, desejo homenagear os colegas da especialidade, que dignificam com o seu trabalho junto à criança a arte de cuidar. E lembrar, para nossa permanente reflexão, que um desafio a ser enfrentado pelo mundo moderno, repleto de inovações tecnológicas e contradições, que busca no limite a produtividade e o desempenho, é que o trabalho que enobrece o homem pode se tornar uma máquina devoradora do melhor desse mesmo homem.
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP