SPSP reúne especialistas para discutir o tema “confiança nas vacinas: como estamos e o que fazer”

SPSP – Sociedade de Pediatria de São Paulo
Texto divulgado em 07/05/2019

No dia 27 de abril, foi realizado na sede da Sociedade de Pediatria de São Paulo, o “Café da Manhã com o Professor – Confiança nas vacinas: como estamos e o que fazer”. Organizado pela Diretoria de Cursos e Eventos e pelos Departamentos Científicos de Infectologia e de Imunizações da SPSP, o encontro teve por objetivo discutir a confiança nas vacinas, a hesitação e recusa vacinal e o impacto no controle das doenças imunopreveníveis, marcando também o encerramento da campanha “Abril Azul – Confiança nas Vacinas: eu cuido, eu confio, eu vacino”. O evento foi coordenado pela pediatra e infectologista Silvia Regina Marques, presidente do Departamento de Infectologia da SPSP.

Melissa Palmieri, membro dos Departamentos de Infectologia e de Imunizações da SPSP, iniciou o evento apresentando dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças – CDC (EUA) que apontam que mil a 3 mil crianças morrem anualmente de doenças infecciosas imunopreveníveis; nos adultos, esses índices atingem 50 a 70 mil. “Atualmente, temos no Brasil um calendário vacinal pediátrico bastante preciso, detalhado, bem aceito e as vacinas são muito efetivas”, declarou a médica, esclarecendo que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) é um modelo efetivo e bastante elogiado.

Ao abordar o sarampo, Melissa disse que a doença hoje disparou estado de alerta: são mais de 5 mil casos de sarampo nas Américas, com destaque para a Venezuela, com 3.549 casos. “No Brasil, há 361 casos confirmados da doença em Roraima (61% venezuelanos e 38% brasileiros) e 9.808 casos confirmados no Amazonas (todos brasileiros)”, relatou a infectologista, esclarecendo que, entre os brasileiros, a faixa etária mais acometida pela doença é a de crianças abaixo de cinco anos (e também adultos jovens, de 20 a 29 anos, no Estado do Amazonas).

Melissa também citou a coqueluche, que é uma doença altamente contagiosa e cujos valores reprodutivos são similares aos do sarampo e maiores que os da gripe, caxumba, poliomielite, rubéola e catapora. Além disso, a subnotificação da coqueluche é elevada e, por isso, a incidência real da doença pode ser 40-160 vezes maior do que os números oficiais. Quanto à gripe, segundo o Ministério da Saúde, as mortes de crianças pela doença triplicaram no Brasil no ano passado (de 14 óbitos em 2017 para 44 em 2018).

Na sequência, Helena Keico Sato, membro do Departamento de Infectologia da SPSP e diretora técnica do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, abordou a avaliação nacional das coberturas vacinais, apontando uma queda nos índices. “Isso ocorre por diversos motivos, entre eles a questão dos eventos adversos e a falsa percepção de que certas doenças desapareceram e que por isso não precisa mais vacinar”, relatou. Em relação ao vírus da Influenza no Estado de São Paulo, ela comentou que houve um aumento em vários grupos. “Entretanto, focando nas crianças, podemos notar que, em 2016, chegamos a uma cobertura de 90%, sendo que em 2017 foi de 70% e em 2018 caiu para 66%, um dado realmente preocupante”, alertou a médica.

Quanto às campanhas de vacinação da poliomielite e sarampo no Estado de São Paulo, a taxa de cobertura com menor índice foi a de crianças de um ano de idade (1ª dose 81,9% e 2ª dose 83,3%). “Uma pesquisa mostra que, no Brasil, nos anos de 2016 e 2017, comparando com 2015, tivemos uma queda na cobertura das vacinas contra poliomielite, hepatite A e meningocócica C, em torno de 20%”, mencionou Helena. Para o ano de 2018, os dados do DATASUS mostram uma queda acentuada nos índices de coberturas vacinais no Estado de São Paulo. “De um modo geral, essas coberturas não chegaram a 80%”, afirmou.

 

Recusa vacinal

A infectologista Silvia Regina Marques, presidente do Departamento de Infectologia da SPSP, destacou os incontestáveis benefícios da vacinação na saúde. “Segundo o CDC, a vacinação consta na lista das dez maiores conquistas na saúde pública. No entanto, nos deparamos com grupos, tanto de médicos quanto de leigos, que se proclamam contra o uso das vacinas”, lamentou a pediatra, dizendo que as vacinas se tornaram vítimas do seu próprio sucesso.

Silvia apontou que alguns possíveis fatores para a queda nas coberturas vacinais englobam, além da falsa ideia de que não é mais preciso se vacinar, o desconhecimento dos esquemas vacinais recomendados, a falta de tempo, profissionais de saúde insuficientes para atender a demanda e sem a devida capacitação, entre outros. “As atitudes referentes às vacinas ocorrem num movimento ‘continuum’, variando de aceitação à recusa total, mas é principalmente no grupo intermediário a esses dois, o da hesitação, que nós, profissionais de saúde, devemos atuar para incrementar essas taxas de cobertura”, revelou.

Sobre o estudo multicêntrico “Enfrentando a recusa vacinal”, em que foi aplicado um questionário para médicos, pais e estudantes de Medicina, ela comentou alguns resultados: entre os médicos, quase 90% dizem que discutem as vacinas com os pais/pacientes, entretanto, cerca de 45% não se sente bem informado e não tem muita segurança na hora de debater sobre o tema. Além disso, uma parcela grande, quase 70%, tem medo de eventos adversos. Em relação aos pais, 89% referem que a sua principal fonte de informação sobre vacinas é o médico, seguido pela internet (32,1%) e por familiares/amigos (23,7%). “Um dado alentador é que 95% dos pais confiam no esquema de vacinação”, salientou.

Para encerrar o evento, Claudio Barsanti, presidente da SPSP, destacou que a queda nas taxas de coberturas das vacinas é um problema mundial. “Uma das razões ligadas a essa queda é a divulgação de falsas notícias atribuindo diversos problemas à vacinação”, relata, apontando que por meio das mídias digitais, essas informações incorretas tomaram grandes proporções, atraindo grupos que se utilizam delas para se posicionar contra as vacinas.

“O pediatra tem um papel muito importante no combate desses movimentos antivacinas, que é levar as informações corretas para a sociedade. Ele pode reservar um pequeno tempo para isso nas consultas e, quando possível, em consultas de pronto atendimento, uma vez que estas orientações são fundamentais para esclarecer a população ”, enfatizou Barsanti. “A partir do momento que tratamos um indivíduo, estamos tratando a sociedade toda, porque diminuímos a incidência de determinas doenças infectocontagiosas”, concluiu.

Da esquerda para direita: Claudio Barsanti, presidente da SPSP; Helena Keico Sato, membro do Departamento de Infectologia; Melissa Palmieri, membro dos Departamentos de Infectologia e de Imunizações; e Silvia Regina Marques, presidente do Departamento de Infectologia.

Claudio Barsanti faz coordena a mesa de discussão

Público assiste às palestras