A otite média aguda (OMA) é um dos principais motivos de consulta médica em crianças menores de 5 anos e, nos dois primeiros anos de vida, estima-se que a criança apresente entre 1 e 3 episódios de otite. Dentre os fatores de risco, destacam-se as infecções respiratórias, que podem ser causadas por diversos vírus, dentre eles, os vírus influenza, que circulam principalmente nos meses mais frios.
A vacina influenza é segura e efetiva e recomendada para crianças saudáveis com idade entre 6 meses e cinco anos, assim como para grupos de risco e contatos de grupos de risco, entretanto, é subutilizada em crianças e, mesmo nos grupos de risco.
Estudos recentes comprovam que o uso da vacina não apenas reduz a carga da doença, mas também reduz a incidência de otite média aguda e otite média com efusão em 30% a 50%.
A eficácia da vacina pode variar de ano para ano, dependendo da similaridade entre as cepas contidas na vacina e as cepas circulantes. Entretanto, como os vírus influenza acometem grande parte da população todos os anos, mesmo que a redução seja de pequena (30%), o benefício da vacinação é enorme, pois tem impacto sobre a doença, complicações comuns como otites e sinusites, e complicações de maior gravidade, como pneumonia secundária.
Reduzir o número de otites significa reduzir o uso de antibióticos e, conseqüentemente, o aumento na resistência bacteriana, assim como o uso excessivo de outros medicamentos, como antitérmicos, descongestionantes, xaropes e antitussígenos.
Vale destacar que a asma é a doença crônica mais comum da infância, acometendo mais de 10% dos escolares e a rinite alérgica é fator predisponente a otites sinusites e que, apesar de a vacina de influenza ser oferecida gratuitamente para os asmáticos e outros grupos de risco (quadro 1), nem sempre os pediatras recomendam sua utilização e muitos contra-indicam por desconhecerem os dados recentes sobre segurança e efetividade da vacina na faixa etária pediátrica.
Finalmente, deve ser lembrado que todos os profissionais de saúde devem ser vacinados, não só para se protegerem, mas também para reduzir o risco de transmitir o vírus a seus pacientes.
Quadro 1. A vacina inativada de influenza é recomendada pela SBP para todas as crianças saudáveis com idade entre 6 meses e 5 anos (calendário SBP 2009) e está disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais para crianças maiores de seis meses de idade, nas seguintes condições *:
- portadores de imunodeficiência congênita ou adquirida;
- portadores do HIV e filhos de mãe portadora do HIV;
- comunicantes domiciliares de grupos de risco **;
- doadores de órgãos sólidos e de medula óssea cadastrados nos programas de doação;
- doenças cardíacas crônicas;
- doenças pulmonares crônicas (incluindo asma e fibrose cística);
- portadores de doenças neurológicas crônicas incapacitantes;
- portadores de nefropatias crônicas submetidos à hemodiálise, ou sindrome nefrótica;
- portadores de trissomias (incluindo síndrome de Down);
- portadores de doenças de depósito.
* Os grupos de risco com mais de dois anos devem receber também a vacina polissacarídica 23 valente, dois meses após a última dose da vacina conjugada 7-valente, para ampliar o espectro de proteção contra os sorotipos de S. pneumoniae não incluídos na vacina.
** De acordo com a Academia Americana de Pediatria, contatos domiciliares de crianças menores de cinco anos também devem ser vacinados, para evitar a transmissão dos vírus a esse grupo, também considerado de alto risco para complicações.
Referências bibliográficas
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Relatora: Dra Lucia Ferro Bricks
Membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo – gestão 2007-2009; Doutora em Medicina, Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP.
Texto enviado para divulgação em 25/05/2009.