Varicela: qual a melhor estratégia de vacinação?

Nos Estados Unidos a introdução de dose única da vacina varicela (VV) no calendário de rotina resultou em proteção de 80% contra todas as formas da doença (> 95% para formas graves), redução significativa no número de casos (71% a 84%), hospitalizações (88%), consultas (59%) e gastos médicos (74%) relacionados às hospitalizações e consultas. No Brasil, apesar das recomendações das sociedades médicas para incluir essa vacina no calendário de rotina, a vacina varicela só está disponível na rede pública para grupos de risco e seus contatos e, mesmo nesses grupos, é subutilizada. Casos de transmissão da doença em ambiente hospitalar continuam a ocorrer e a varicela, atualmente, é uma das principais causas de morte por doenças imunopreveníveis em crianças menores de três anos.

A estratégia de vacinação indiscriminada é mais efetiva do que tentar vacinar grupos de risco ou fazer bloqueio de surtos, pois beneficia também os menores de um ano, que não podem receber a vacina, através da imunidade coletiva. Vale lembrar que os menores de um ano apresentam risco três vezes maior complicações e hospitalização por varicela e, também, um grupo de alto risco para morte.

Estudos de custo-efetividade dependem de diversos fatores, incluindo os custos da vacina, gastos com a doença e suas complicações, assim como perdas econômicas por faltas da criança na escola e dos pais ao trabalho. Nos últimos 20 anos, a varicela causou mais de 1000 óbitos, apenas no estado de São Paulo, e a maioria (76%) ocorreu em crianças e a vacina, desde 2003 é utilizada em bloqueio de surtos em creches.

Por ser uma doença altamente contagiosa, para impedir a circulação dos vírus e os surtos, é necessário manter altas coberturas vacinais e a estratégia de bloqueio é menos efetiva do que a vacinação de rotina, pois nem sempre é possível identificar as crianças suscetíveis e vacinar as expostas à doença nas primeiras 72 horas após o contato com caso índice. Isso fica evidente quando comparamos o número de mortes por varicela no estado de São Paulo, onde foram registrados 204 óbitos por varicela de 2002 a 2009 (máximo de 60 mortes em 2003 e mínimo de 12, em 2006). Apesar da tendência de queda no número de mortes por varicela entre 2003 e 2006, o impacto da vacinação de bloqueio de surtos em creches.

Embora as mortes e complicações da varicela ocorram em maior proporção nos imunocomprometidos, em números absolutos, crianças previamente saudáveis são as mais acometidas e até 50% contraem a doença até os três anos de idade.

Se a primeira dose da vacina for administrada aos 12 meses, é possível evitar grande parte das complicações.

Referências bibliográficas

  1. Recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). Prevention of Varicella. MMWR 2007; 56(rr04):1-40.
  2. Bricks LF, Sato HK, Oselka GW. Varicella vaccines and measles, mumps, rubella, and varicella vaccine. J Pediatr (Rio J). 2006;82(3 Suppl):S101-8.
  3. Marcitelli, R; Bricks, LF. Varicella zoster in children attending day care centers. Clinics. 2006;61:147-152.
  4. São Paulo. Centro de Vigilância Epidemiológica. Varicela. Disponível no site www.cve.saude.sp.gov.br (acessado em 24 de dezembro de 2008).

Relatora: Dra Lucia Ferro Bricks
Membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo – gestão 2007-2009; Doutora em Medicina, Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP.

Texto enviado para divulgação em 18/05/2009.