INTRODUÇÃO: A doença de Kawasaki (DK) é uma vasculite sistêmica com predomínio de artérias de médio calibre e de curso agudo. É a segunda vasculite primária mais frequente na pediatria e aproximadamente 85% dos casos ocorrem em crianças menores de 5 anos, com pico entre 9 e 12 meses de idade.
DESCRIÇÃO DO CASO: Menina de 1 ano e 8 meses, previamente hígida, iniciou há dois dias da admissão hospitalar quadro de febre alta, dor abdominal intensa, vômitos e rash maculopapular. Ao exame físico, havia dor em fossa ilíaca direita, sem sinais de peritonite. Apresentou tomografia computadorizada de abdome compatível com apendicite e elevação de proteína C reativa, sendo submetida a apendicectomia com achado de apendicite grau I. Na evolução pós-operatória, a despeito de antibioticoterapia de amplo espectro, evoluiu com febre por mais de 5 dias, edema de mãos e pés com posterior descamação periungueal, fissuras labiais, além de anemia, leucocitose, plaquetose e hipoalbuminemia, preenchendo critérios para doença de Kawasaki atípico. Não apresentou alterações ecocardiográficas. Realizou imunoglobulina humana 2 g/kg e AAS 5 mg/kg/dia sem melhora, sendo indicada pulsoterapia com metilprednisolona 30 mg/kg/dia com boa resposta. Recebeu alta com curso curto de corticoterapia oral para seguimento ambulatorial.
DISCUSSÃO: Abdome agudo cirúrgico está presente em 4,6% dos casos de doença de Kawasaki, sendo mais comum nas formas atípicas. Habitualmente, essa vasculite ocorre de 4 a 6 semanas após o início dos sintomas abdominais, no entanto, no caso relatado, teve início por volta do quinto dia pós-operatório. DK de início cirúrgico é expressão de uma doença mais agressiva, e isto foi demonstrado na paciente em questão.
CONCLUSÃO: Apendicite pode ser a manifestação inicial da doença de Kawasaki e o pediatra deve estar atento a sintomas abdominais em pacientes com tal vasculite, bem como a sintomas de DK em pacientes com abdome agudo.