Uma criança deficiente visual pode ter o desenvolvimento global comprometido. O trabalho de estimulação oportuna nestes casos previne ou minimiza tais impactos, criando condições que favoreçam o potencial de desenvolvimento. Mesmo sendo encaminhados precocemente para intervenções, o vínculo entre os cuidadores e a criança que está sendo estabelecido pode ser prejudicado, pois o nascimento de um filho deficiente gera mudanças nas relações familiares.
Este estudo descreve o caso de uma criança prematura, fruto de uma gestação não planejada. Durante o pré-natal foi identificado mal formação do cordão umbilical, elevando o cuidado para gestação de risco. Após o nascimento, constatou-se infecção congênita pelo vírus HSV-1, identificando-se lesões bolhosas na epiderme, microftalmia no olho direito, lesões na retina do olho esquerdo, entre outras alterações neurológicas, causando baixa visão severa e paralisia cerebral.
Iniciou-se estimulação visual oportunamente, atravessada pelas feridas narcísicas paternas provocadas pelo luto de um nascimento de uma criança diferente do que se esperava. O encaminhamento para um ambulatório multidisciplinar voltado ao atendimento de bebês com sinais de risco em saúde mental foi feito, diante da preocupação em relação a um possível risco na constituição psíquica do bebê, muito além das questões visuais e neuro motoras. Neste núcleo, cujo objetivo é intervir nos entraves iniciais da constituição psíquica e no desenvolvimento de bebês de 0 a 3 anos, pensa-se no sujeito que se constitui a partir da interação entre o corpo e o psiquismo. As intervenções transdisciplinares auxiliam corpos biológicos a ingressar num circuito pulsional, num mundo de comunicação e socialização.
O atendimento, voltado aos pais e intervenções com a criança, foi feito por psicanalistas, psiquiatra, terapeuta ocupacional, ortoptista e fonoaudióloga, com avanços surpreendentes na postura, tônus, coordenação, comunicação e principalmente no vínculo com os pais.