Febre hemorrágica do dengue: Ultrassonografia abdominal em crianças com suspeita

Relatores:
Dr. Joel Schmillevitch
Presidente do Departamento Científico de Diagnóstico por Imagem da SPSP; Membro do Grupo de Fígado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Dra. Ana Gorski
Médica especialista em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pelo CRB-Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem

 

A ultrassonografia (US) é um método diagnóstico inócuo, que não usa radiação ionizante, de baixo custo e de fácil acesso à população. Na fase mais crítica da febre hemorrágica do dengue (FHD), o exame detecta precocemente sinais de extravasamento plasmático. Nessa fase, com risco de choque, observam-se espessamento da parede da vesícula biliar e derrames cavitários. Esses sinais podem ser detectados até dois dias antes da defervescência, principalmente o derrame pleural, e antecedem as modificações no hematócrito.

Outros sinais que podem ser encontrados são: derrame pericárdico e coleção líquida perirenal e sub-hepática. O fígado, baço e pâncreas podem apresentar aumento volumétrico, mantendo a ecotextura homogênea. A análise comparativa, incluindo sinais clínicos, hemoconcentração acima de 20 min, hipoproteinemia, US e radiografia do tórax, demonstra que a US é o melhor método para rastreamento da FHD, registrando sensibilidade de 91,42% e valor preditivo negativo de 84,21%.

O derrame pleural é o achado ultrassonográfico mais comum e pode ser evidenciado em crianças com dengue clássico, podendo ser unilateral ou bilateral, sendo menos observado à esquerda. Derrames pleurais de 50 a 100 ml podem ser detectados. Líquidos nas regiões subcapsular hepática e espaço perirenal são sinais de gravidade.

O espessamento da parede da vesícula biliar é achado inespecífico, comumente encontrado em outras afecções biliares ou não biliares, tais como colecistite aguda, cirrose hepática, hepatite viral, insuficiência cardíaca congestiva, doença renal crônica e hipoalbuminemia.

Embora o valor normal da espessura da parede da vesícula biliar ainda não tenha sido bem estabelecido na literatura, considera-se espessamento da parede da vesícula biliar quando a medida é superior a 3 mm. A aferição é mais acurada quando obtida na parede anterior sub-hepática em corte longitudinal, evitando-se o artefato de lobos laterais ocasionado pelo gás intestinal intraluminal adjacente. O achado mais precocemente encontrado nas crianças com dengue clássico foi o espessamento da parede vesicular. Nos pacientes com FHD, predomina o padrão de espessamento estriado decorrente de provável acúmulo de líquido entre as camadas da parede, produzindo as estriações em função da diminuição da pressão osmótica intravascular.

Os recentes avanços da US têm colaborado no diagnóstico de doenças abdominais, tais como: imagens bidimensionais de alta resolução, varreduras multislice, cálculos de volume de órgãos e de coleções líquidas e transdutores específicos para uso pediátrico. Apesar da alta resolução das imagens da tomografia computadorizada e da ressonância magnética, a US apresenta vantagens pelas facilidades do exame, inocuidade, custo e a possibilidade de ser realizado no leito.

A desvantagem é ser operador-dependente. O pediatra deve solicitar seus exames de imagem com o máximo de informações do paciente e a hipótese diagnóstica e interagir se possível com o médico ultrassonografista.

 

Texto original publicado no Boletim “Pediatra Informe-se” Ano XXVII • Número 157 • Maio/Junho 2011.