Pastoral da Criança na luta contra obesidade infantil

A Pastoral da Criança lançou em novembro de 2010, em Maringá (PR), o projeto-piloto do Programa de Combate à Obesidade Infantil. O objetivo é chamar a atenção para o problema, que está aumentando no Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que quase metade da população adulta brasileira (49%) está acima do peso. O levantamento, que faz parte do estudo Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no País, revela que o excesso de peso também atinge uma em cada três crianças entre 5 e 9 anos. Para se ter uma ideia, os níveis de obesidade e ex cesso de peso do Brasil são semelhantes aos dos países desenvolvidos, onde 16% das populações podem ser consideradas obesas.Folha de Londrina (PR) – 17/11/2010

 

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Dra. Rosa Resegue Ferreira da Silva
Doutora em Pediatria pela EPM/UNIFESP e Presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da SPSP.

Desde sua criação, em 1983, a Pastoral da Criança tem sido uma importante aliada na luta pela promoção da saúde das crianças brasileiras. Realizado por voluntários espalhados pelo país, o trabalho da Pastoral visa promover o desenvolvimento integral da criança desde a sua gestação até os seis anos de idade. Inicialmente focado na diminuição da mortalidade infantil, o primeiro desafio foi o enfrentamento dos altos índices de desnutrição e da mortalidade por situações que podiam ser prevenidas, como a desidratação secundária às diarréias. Mais recentemente, em conformidade com a mudança nos perfis de morbimortalidade das crianças brasileiras, o trabalho passou a focar de forma mais acentuada a captação para a realização do pré-natal e a qualificação desse acompanhamento, alem da ênfase à promoção do aleitamento materno e à promoção do desenvolvimento da criança.
Nos últimos anos, a obesidade foi certamente uma das doenças crônicas que tem merecido mais atenção em todas as regiões do mundo. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 1963 e 2004, a prevalência de obesidade mais do que triplicou entre os adolescentes, mais do que quadruplicou nas crianças com idades entre 6 e 11 anos e mais que dobrou nas crianças com idades entre 2 e 5 anos. Estima-se que cerca de 22 milhões da população mundial de crianças menores de 5 anos e 10% das crianças e adolescentes com idades entre 5 e 17 anos apresentem-se com sobrepeso ou obesidade.
No Brasil, desde a década de 1980, observam-se mudanças no padrão de evolução nutricional, caracterizando o fenômeno conhecido como transição nutricional, em que há a passagem da desnutrição para a obesidade. A coexistência desses agravos, particularmente nas populações mais pobres, acarreta grande impacto no sistema de saúde e na estrutura socioeconômica das diversas regiões. A análise e comparação de estudos populacionais realizados desde a década de 1970, incluindo a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher (PNDS), de 2006, permitem estabelecer algumas conclusões sobre o panorama da evolução nutricional das crianças brasileiras. No período entre 1974 e 1997, a prevalência de sobrepeso e de obesidade mais do que triplicou entre crianças e adolescentes (de 4,1% para 13,9%). Na PNDS de 2006, há evidências do controle de formas agudas de deficiência energética nas crianças menores de 5 anos, em todo o país. No entanto, a prevalência de excesso de peso-para-altura foi observada em 6,6% das crianças brasileiras nessa faixa etária, o que indica exposição dessa população ao risco de obesidade.

São inúmeros os estudos comprovando as estreitas ligações da obesidade infantil com doenças da vida adulta como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. Muitas das complicações cardiovasculares e metabólicas da obesidade têm sua origem durante a infância do indivíduo. Por esses motivos, é cada vez mais importante sua prevenção e tratamento em idades mais precoces. Assim sendo, essa iniciativa da Pastoral é mais um passo importante na integração de esforços para a melhoria das condições de vida das crianças brasileiras.
Texto publicado pela Diretoria de Assuntos Comunitários em 06/09/2011.