Confusão de bico: mito ou verdade

Relatoria: Depto. Científico de Aleitamento Materno da SPSP

 

Confusão de bicos é um termo comumente utilizado para explicar a dificuldade que algumas crianças têm de continuar o aleitamento materno após terem sido submetidas a algum tipo de bico artificial (estejam eles relacionados à sucção nutritiva ou não). Inicialmente, essa utilização pode gerar confusão quanto à forma de mamar da criança, dificultando a ordenha no seio materno, podendo levar ao desmame precoce.

É consenso entre os pesquisadores que a introdução dos bicos artificiais prejudica a continuidade do aleitamento materno. A introdução de chupetas paralelas ao aleitamento aumenta o índice de desmame precoce e o abandono total da amamentação no sexto mês de vida. Existe relação com a frequência de uso e a época da introdução, ou seja, quanto mais tempo a criança suga a chupeta, e quanto antes ela for introduzida, maior risco para o desmame. A causa do desmame, nesses casos, é a satisfação do desejo de sugar da criança que é suprida pela chupeta, acarretando menos sucção no seio materno e, consequentemente, menor estimulação. Artigos demonstram que a confusão na forma de sugar pode dificultar a pega no mamilo, diminuir a eficácia do aleitamento e gerar fissuras mamilares, outro fator envolvido no desmame precoce.

Quando o bico artificial está associado às fórmulas lácteas (mamadeira), os índices de desmame disparam. A principal causa é a satisfação gerada pela ingestão da fórmula, diminuindo a busca pelo seio materno, a estimulação do mamilo e consequentemente a produção de leite. Outro fator importante é que a extração do leite através do bico de borracha (por pressão negativa e hiperatividade do músculo bucinador) é mais fácil que a do mamilo (movimentos mandibulares vigorosos e língua bastante ativa) e a criança passa a ter uma predileção pelo primeiro. A prova disso é que é comum encontrarmos crianças que foram submetidas à mamadeira apenas uma vez e se recusam a pegar o peito.

Alterações ortodônticas e fonoarticulatórias estão entre os inúmeros males já descritos pelo uso do aleitamento artificial. Entretanto, a respiração bucal é uma das mais importantes e graves consequências da mamadeira, causando danos muitas vezes irreparáveis. O fato de mamar na mamadeira não substitui a necessidade de sugar e, invariavelmente, o uso dela está associado à chupeta, acentuando todos os problemas inerentes da sucção dos bicos de borracha.

O aleitamento protege a criança em todos os aspectos, supre as necessidades neurológicas de sucção, nutrição e emocionais, sem necessidade de subterfúgios. Cabe aos profissionais de saúde informar isso aos pais.

 

Texto original publicado no Boletim  “Pediatra Informe-se” Ano XXVI • Número 153 • Setembro/Outubro de 2010